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sábado, 28 de maio de 2016

O escárnio e a intolerância do Homo sapiens

Disponível também no JusBrasil

Escárnio e intolerância, palavras veladas na maioria das vezes. Veladas, porque são pronunciadas em círculos concêntricos. Em alguns momentos, quando a Justiça brasileira titubeia, os ânimos exaltados do darwinismo social tomam conta da sociedade brasileira. Porém, é necessário dizer que, aos que pensarem assim, o preconceito não é meramente do branco ao negro, mas deste ao branco.

A escravidão negra no Brasil fora a engrenagem motriz do desenvolvimento econômico, fato. Contudo, querendo ou não, se construiu certo preconceito dos negros aos brancos e vice-versa. Por quê? Quando um povo é dominado por outro, e este subjuga o conquistado, não há como não ter aversões e ódios ao conquistador. O conquistador, por sua vez, se possui a ideologia de supremacia racial, como ocorre no darwinismo social, que ainda está presente neste século, não enxergará o povo conquistado como ser humano, mas animal para servir.

Assim, se construiu muros de discórdias, de discriminações, pelo simples fato das diferenças epiteliais. O estereótipo do negro está associado às favelas, e estas à bandidagem. [1]

Na Pesquisa “Dimensões da cidade: favela e asfalto” [2], no item VII – Percepções das características dos Moradores do próprio bairro e de outros bairros:

Foi perguntado aos moradores do Complexo de Manguinhos a respeito das características das pessoas que moram no “asfalto”.

· 69,5% dos moradores de Manguinhos acreditam que os moradores do “asfalto” são sempre ou quase sempre “desconfiados”;

· 62% acreditam que os moradores do asfalto são sempre ou quase sempre “arrogantes”;

· 61% acham que os moradores do asfalto são sempre ou quase sempre “gentis e educados” e também solidários (59,5%); metade dos entrevistados (50%) dizem que os moradores do asfalto são sempre ou quase sempre “acomodados”.

Foi perguntado aos entrevistados do asfalto a respeito das características das pessoas que moram em favelas.

· 78% dos moradores do asfalto acreditam que os moradores de favelas são sempre ou quase sempre “solidários”;

· 75% acreditam que os moradores de favelas são sempre ou quase sempre “desconfiados”;

· 61% acham que os moradores de favelas são sempre ou quase sempre “gentis e educados”; 57,5% dizem que os moradores de favelas são sempre quase sempre “acomodados” e 37% acham que são “arrogantes”.

Gilberto Freyre produziu várias obras literária sobre a vida social brasileira: Introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil – Sobrados e mocambos. Decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano; Vida social no Brasil nos meados do século XIX; Tempo morto e outros tempos. Trechos de um diário de adolescência e primeira mocidade 1915-1930. A construção psíquica brasileira fora moldada pelo racismo e preconceito, todavia tais ideologias comportamentais, como dito alhures, não é tão somente do branco ao negro.

Criei o termo "máquina antropofágica", da Arquitetura da Discriminação, como denúncia de fatos e acontecimentos que diluem a [frágil] civilidade brasileira. A desconfiança entre as etnias no Brasil é notória. Numa pesquisa rápida na rede mundial de computadores, a internet, não é difícil encontrar barbaridades. A banalidade do mal, como conceituou Hannah Arendt, não é um fato isolado, de única pessoa ou único grupo, mas do próprio ser humano.

O que é o ser humano? Uma mercadoria? Um animal humano à serviço de outro animal humano?

Quem deve ser considerado humano [superior]? Aquele que respeita às leis de seu país, mesmo que estas leis permitam discriminações e genocídios? Ou aquele que luta pelos direitos civis?

Qual ser humano deve ser considerado bom ou mau? O indivíduo que paga todos os impostos, nunca cometeu qualquer crime em seu país, mas usa das brechas das leis para poluir e pagar o mínimo do mínimo ao empregado? Ou o indivíduo que trafica drogas ilícitas, conforme legislação de seus país, mas paga impostos e nunca cometeu homicídios ou lesões corporais?

Perguntas que devem ser respondidas pelo discernir livre, pelo olhar não egocêntrico, não ideológico temeroso de gerações.

"Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e benefício de todos, aceite-o e viva-o". (Buda)

Construir um planeta de solidariedade é possível quando há diversidades culturais? E qual ideologia cultural é melhor para a humanidade? Penso que cada qual possui às suas virtudes, e nestas virtudes que a humanidade deve seguir. A maioria das religiões pregam a não violência. Somente é permitido o ato violento como último recurso para preservar a integridade física. A caridade é a salvação da alma, a tolerância, o caminho da paz e união. O que escolher? Essas máximas, ou as máximas que pregam discórdias, perseguições, superioridade religiosa? Cada qual escolhe o seu próprio destino.

O medo do desconhecido ainda impera no Homo Sapiens. O tempo escoou na ampulheta da vida humana, contudo o tempo cronológico do medo ainda persiste neste início de século [XXI]. Diferenças causam angústias, desconfianças. As atitudes do Homo neandertalenses persistem, como defesa ao desconhecido. O medo impede o primeiro passo ao desconhecido, não obstante, também permite a sobrevivência da zona de conforto.

São poucos Homo Sapiens que caminham, mesmo com cautela, entre os extremos: defesa ou zona de conforto. Seres humanos que venceram seus medos, tiveram visões além de seus próprios medos sejam eles do próprio âmago ou do que outros seres humanos pensariam, como agiriam. Seres humanos como Nelson Rolihlahla Mandela, Mohandas Karamchand Gandhi, Martin Luther King, Joaquim José da Silva Xavier, um dos poucos inconfidentes a favor da abolição da escravatura negra, Dionísia Gonçalves Pinto e Maria Ernestina Carneiro Santiago Manso Pereira não se permitiram serem conduzidos em seus destinos por convenções e pressões culturais forjadas na discriminação, no preconceito.

Fiat Lux!

Referências:

Geledés. Instituto da Mulher Negra. Quem é Fernando Holiday, o negro que odeia negros adotado por um movimento golpista. Disponível em: http://www.geledes.org.br/quem-e-fernando-holiday-o-negro-que-odeia-negros-adotado-por-um-movimento-...

[1] — Agência Brasil. Moradores do asfalto têm visão preconceituosa de favelas, mostra pesquisa. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-02/moradores-do-asfalto-tem-visao-preconceituosa-...

[2] — A Voz do Cidadão. Pesquisa – “Dimensões da cidade: favela e asfalto”. Disponível em: avozdocidadao

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