Pesquisar este blog

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Instrutor de trânsito sugeriu que idosa andasse de bicicleta em vez de pilotar moto

Costureira de 65 anos conta venceu preconceito para poder dirigir moto (Foto: Alana Fonseca/G1)

Aos 65 anos, além dos cinco filhos, seis netos e dois bisnetos, Mara Santos tem outra paixão: uma moto de 125 cilindradas. Ela acredita que parte do sentimento se de deve ao preconceito que enfrentou para conseguir, já idosa, a habilitação na categoria A. “Na autoescola, o instrutor sugeriu que eu andasse de bicicleta em vez de pilotar moto. Fiquei mal, cheguei a desistir, mas consegui vencer o preconceito”, diz.

Hoje, além da  permissão para pilotar motos, a costureira de Guarapuava, na região central do Paraná, também tem autorização para dirigir caminhões e carros. Entretanto, o veículo de duas rodas ainda é o preferido. “Andar de moto me dá uma sensação de liberdade, de independência”, explica. De acordo com ela, o próximo passo é trocar o veículo atual, por um mais potente, de 300 cilindradas, para poder se "aventurar mais por aí".

"Nem um alfinete emprestado"

Mara aprendeu a costurar quando ainda era criança. De lá para cá, apesar de ter tido outros empregos, a costura nunca foi deixada totalmente de lado. Divorciada, ela conta que sustentou os filhos, a maior parte do tempo, apenas com a renda obtida como costureira.

Mara aprendeu a costurar quando ainda era criança (Foto: Alana Fonseca/G1)Mara aprendeu a costurar quando ainda era criança (Foto: Alana Fonseca/G1)

“Sempre tive o sonho de comprar uma moto, mesmo sem saber pilotar. Mas, quando as crianças ainda eram pequenas, eu tinha que usar o pouco que ganhava para comprar comida. Não tinha opção”, lembra.

Assim que os filhos pararam de depender dela, Mara decidiu que era hora de realizar seu sonho. Ela, então, começou a trabalhar ainda mais para juntar dinheiro e comprar uma moto. Com quase 60 anos, conseguiu. E conseguiu antes mesmo de ter permissão para pilotar o veículo. "Dinheiro do meu esforço. Nem um afinete emprestado', diz.

Primeiro, a costureira tentou aprender a pilotar sozinha para se sentir mais segura. “Todos os dias, no fim da tarde, eu ficava, de longe, observando alunos de uma autoescola. Depois, quando eles iam embora, eu tentava. Caí várias vezes”, lembra.

Mara e um dos netos em um encontro de motociclistas em Guarapuava (Foto: Mara dos Santos/Arquivo pessoal)Mara e um dos netos em um encontro de
motociclistas em Guarapuava
(Foto: Mara dos Santos/Arquivo pessoal)

Preconceito

Então, após inúmeros tombos, mas um pouco mais confiante, ela se matriculou em uma autoescola.

“Na primeira aula, o instrutor fez uma cara de espanto, nem disfarçou. Acho que ele esperava uma mocinha”, lembra.

A costureira conta que, a partir daí, teve que enfrentar muitas provocações. “Ele me perguntava por que eu queria aprender a andar de moto depois de velha”, relata.

Aos poucos, Mara foi perdendo a vontade de ir às aulas. “A motivação é importante quando vamos aprender algo. Eu sentia falta de incentivo”, afirma.

Sem ânimo, ela abandonou o aprendizado. “Vendi a moto para o ex-marido da minha filha e parei de ir à autoescola”, conta.

Mas, os dias passaram, e a costureira decidiu que se esforçaria para comprar outra moto e que, desta vez, ninguém mais a faria desistir do seu sonho antigo.

Superação

O instrutor foi demitido após Mara contar todas as provocações que ouviu dele. Finalmente, ela voltou para as aulas e o sonho de ter a habilitação na categoria A estava mais próximo do que nunca. Uma moto nova também, de 125 cilindradas, foi comprada.

Para ir à autoescola, a costureira usava o veículo, mesmo sem ter permissão ainda. “Eu sei que era errado, mas tinha medo de andar à noite a pé e sozinha”, explica. Mara confessa que, às vezes, também pilotava à tarde pelas ruas da cidade.

Entretanto, a infração acabou saindo cara. “Um dia, os guardas me pararam e prenderam a minha moto por quase dois meses. Fui só com o capacete para casa. Gastei quase R$ 3 mil para pegar de volta. Ela tomou chuva e sol demais e voltou meio sem cor. Aprendi a lição”, garante.

Após as aulas, chegou a hora da prova final. A costureira não passou de primeira. Mas, logo na segunda vez, foi aprovada. “O segredo é não contar para ninguém que você vai fazer o teste, principalmente para os parentes. Sempre aconselho assim”, brinca. Hoje, com a habilitação em mãos, Mara garante que está mais feliz do que nunca.

'Sensação de liberdade', diz Mara (Foto: Alana Fonseca/G1)'Andar de moto me dá uma sensação de liberdade, de independência', diz Mara (Foto: Alana Fonseca/G1)

Inseparáveis

Mara e a moto são inseparáveis. Durante a semana, ela vai e volta do trabalho de moto. Um dos netos vai de carona todos os dias. Mara também entrega os trabalhos que faz na casa das clientes usando o veículo, que carrega uma cestinha especial para as costuras prontas.

Mas é, na verdade, no fim de semana que a costureira se diverte mais com a sua moto. “No dia a dia, é uma correria só. Quando tenho folga, gosto de andar mais devagar, de aproveitar as paisagens”, revela. Ela também adora ir ao ginásio assistir a jogos de futsal e conta que já foi até Curitiba, a quase 360 quilômetros de Guarapuava, dirigindo. "Só me arrependo de não ter começado a pilotar antes", conclui.

Amor compartilhado

“Eu acho lindo o amor que ela sente pelo veículo. Antes, eu detestava motos. Quando a minha mãe comprou uma, fez com que eu e meu ex-marido aprendêssemos a pilotar. Hoje, cada um tem a sua e, para ele, faz parte do trabalho. Além de todos os exemplos que a minha mãe me deu, tem mais o de ser apaixonada por motos. Amo a minha, assim como ela ama a dela”, conta a filha Juliana do Rocio, de 35 anos.

Mara com as três filhas e uma das netas (Foto: Mara dos Santos/Arquivo pessoal)Mara com as filhas e uma neta. 'Além de todos os exemplos que a minha mãe me deu, tem mais o de ser
apaixonada por motos', diz Juliana (Foto: Mara dos Santos/Arquivo pessoal)

G1 - Sugeriram bicicleta, diz bisavó que venceu preconceito para pilotar moto - notícias em Campos Gerais e Sul


Trânsito Escola - Mara Santos nos mostra de forma cristalina a situação do idoso em nosso país: trabalhadores, decididos, com ânimo para a vida, apesar dos infortúnios criados pelos nossos representantes, os quais degradam a vida dos idosos, como o fator previdenciário.

A lição dessa simpática idosa serve de exemplo aos jovens de nosso país, de que lutar pelos sonhos é um dos objetivos da existência humana. Num país de imensas dificuldades, os jovens se sentem desanimados, a evasão nas escolas é um índice preocupante aos pais. É preciso políticas públicas eficientes para atrair os jovens para as salas de aulas.

Quanto ao instrutor de trânsito, sua postura fora desconexa com sua postura profissional, pois que iria decidir se a idosa tem ou não condições de pilotar são os médicos credenciados pelo Detran.

This work is licensed under a Creative Commons Attribution Non-commercial No Derivatives license.Cópia e distribuição. Permissões, além do escopo desta licença Creative Commods 3.0, podem estar disponíveis em: http://www.transitoescola.net A cópia é permitida, desde de que cite este site / blog (colocar URL), A não ser de fontes replicadas, que podem ser modificadas, comercializadas, de acordo com suas respectivas licenças.
ACESSE OS LIVROS DIGITAIS DE TRÂNSITO ESCOLA NO AMAZON

Licença Creative Commons
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional. Cópia e distribuição, sem fins lucrativos. Permissões, além do escopo desta licença — Creative Commods —, podem estar disponíveis em: http://transitoescola.blogspot.com.br/ A cópia — de qualquer vídeo aula, simulados e textos produzidos por Trânsito Escola — é permitida, desde de que cite este site / blog (colocar URL completo do texto ou 'postagem'). A não ser de fontes replicadas, que podem ser modificadas, comercializadas, de acordo com suas respectivas licenças.