Fraudadores usam boletins de ocorrência para formalizar falso extravio e continuar circulando com o documento.
Londrina - Motoristas estão usando um artifício inusitado para burlar a legislação durante o curso de reciclagem na 12ª Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) de Londrina. Muitos registram indevidamente boletins de ocorrência por extravio de documento para não devolverem ao órgão a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) enquanto frequentam as aulas obrigatórias.
A entrega da CNH é determinada por lei para o motorista que estourar a pontuação por excesso de infrações. O documento só é devolvido com a conclusão do curso, cerca de 45 dias depois do comunicado do Detran.
A FOLHA apurou que muitos incorrem em crime para, numa eventual blitz, passarem despercebidos pela fiscalização, já que policiais não têm o hábito de de fazer uma verificação aprofundada da documentação de cada motorista. ''Fazemos uma amostragem para não congestionar a central'', explicou o capitão Nelson Villa, responsável pelo setor de relações-públicas do 5º Batalhão da Polícia Militar (BPM).
''Fiz tranquila, sem peso algum na consciência, e não me arrependo. Fiz até instruída pelo advogado da minha família'', confessou uma motorista, cuja identidade foi preservada. Ela passou há poucos meses pela reciclagem na Ciretran. ''Na minha sala tinha outras pessoas que fizeram a mesma coisa. Pessoas muito esclarecidas por sinal. Isso foi motivo de brincadeira da gente com os outros alunos do cursinho'', comentou.
A Ciretran não tem levantamento do número de pessoas que entregaram o boletim de ocorrência em vez da CNH em Londrina. Mas só nesta sala com 32 alunos foram três fraudes. O universo pode ser ainda maior, uma vez que são disponibilizadas 70 vagas por semana no cursinho da Ciretran. Dados do Departamento de Trânsito (Detran) indicam que, no primeiro semestre, mais de 1,6 mil pessoas realizaram a reciclagem em Londrina. No mesmo período, 908 motoristas tiveram a carteira suspensa por excesso de multas na cidade.
A prática é considerada crime de falsidade ideológica, cuja pena pode chegar a cinco anos de reclusão. O delegado-chefe da 10 Subdivisão Policial, Marcio Amaro, disse que vai abrir inquérito para investigar a fraude. ''Não vamos permitir esse absurdo'', enfatizou.
