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sábado, 26 de maio de 2012

Atletas enfrentam batalha diária com os motoristas para pedalar nas ruas do DF

Daniel Ferreira/CB

Perigo: os ciclistas dividem as ruas da cidade com os carros

Circula na internet o manifesto de um motorista que questiona o comportamento dos ciclistas. Em cima de uma foto com um pelotão no Lago Sul, que ocupa, além da ciclofaixa, a pista inteira ao lado, está escrito: “E os ciclistas, me respeitam?”. A imagem revela o desentendimento entre aqueles que, sobre diferentes meios de transporte, diariamente dividem — e brigam — pelo mesmo espaço.
Não é difícil presenciar uma cena que ilustre essa disputa nas ruas de Brasília. No início da tarde de ontem, enquanto os atletas Fabrício Lino, Gibran Magno e Henrique Andrade pedalavam pela ciclofaixa na altura da QI 02 do Lago Sul, um caminhão pipa da Novacap ignorou o aviso “Só para ciclistas” marcado no chão e estacionou no local para molhar as plantas. O jeito, então, foi desviar pela esquerda, fazendo, antes, um aceno com as mãos para alertar os carros que passavam.

Situações em que automóveis e a própria população utilizam o espaço dos ciclistas são comuns. “Às vezes, a ciclofaixa está suja ou esburacada e nós temos de avançar para a esquerda. Os carros não entendem, passam tirando fina”, comenta Henrique Andrade, lembrando que apenas o Lago Sul e o Lago Norte têm o espaço exclusivo para o esporte. “Eles ainda falam que é a fina educativa, para aprendermos que não devemos andar ali.”

E não é só isso. Além de terem de lidar com os sustos, os atletas, não raro, escutam xingamentos. Certa vez, enquanto voltava para casa às 7h, após ter pedalado por mais de duas horas, Gibran Magno foi chamado de vagabundo e orientado a procurar um emprego. “E o pior é que eu estava voltando apenas para tomar um banho e ir para o trabalho. Existe essa cultura de que só porque estamos ali, não fazemos mais nada”, lamenta o servidor público.


Prejuízos

Em 2009, Gibran por pouco não abandonou o ciclismo. Enquanto treinava na L4 Sul, pela faixa da direita — não existe o espaço esportivo na via —, um carro acabou o atropelando. Os dois meses de atestado, outro de fisioterapia, a clavícula e a bicicleta quebradas não foram os únicos prejuízos. “A motorista ainda queria que eu pagasse o amassado no carro dela. Precisei entrar na Justiça. Foi uma chateação enorme. No fim das contas, cada um arcou com a própria despesa”, lembra.


Grupos

Em uma competição de ciclismo de estrada, pelotão é o grupo de atletas que, em conjunto, se desloca à frente a fim de barrar o vento e facilitar o trabalho daqueles que seguem atrás. O termo também pode ser adaptado aos treinos, quando até mais de 100 atletas se reúnem para simular uma disputa.

Ronaldo de Oliveira/CB

Fabrício, Gibran e Henrique são atrapalhados por um caminhão da Novacap

45km/h
Velocidade média de um pelotão. Nas descidas, as bicicletas podem atingir até 70km/h

Manifesto circula na internet e questiona as ações dos ciclistas nas ruas

“Como o pneu da bicicleta tem apenas 1 centímetro, passar por cima de buracos ou cacos de vidro é tombo na certa. Muitas vezes a ciclofaixa está em péssimas condições. Acham que estamos na pista porque queremos, mas não é. Estamos ali porque somos obrigados”
Marconi Ribeiro, brasiliense campeão brasileiro de ciclismo de estrada

Erro reconhecido

Apesar de citar inúmeras situações em que são desrespeitados, os ciclistas reconhecem que nem sempre estão corretos. Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, a bicicleta tem os mesmos direitos que qualquer automóvel — e ainda preferência sobre eles —, e, sendo assim, tem de cumprir as mesmas regras.
No entanto, isso nem sempre acontece. “Nós vemos muitos atletas pedalando na contramão. Eles acham que olhando os carros estarão mais seguros”, explica Henrique Andrade. “Além disso, alguns não param no sinal vermelho e, em um treino, fazem uma ultrapassagem de forma perigosa apenas para vencer”, reconhece.

Mas, no fim das contas, o que todos concordam é que deve haver um respeito mútuo. “Aqui tem médico, juiz, atleta profissional. Mas o mais importante: são pais de família e filhos”, argumenta Fabrício Lino, ciclista e professor de educação física. “Está na hora de todos entenderem que não é uma disputa. Cada um tem que dividir o espaço com responsabilidade e cuidado.”

Palavra de especialista

Espaço privativo?

Os motoristas tendem a se comportar como se o espaço da rua fosse privativo de quem tem motor. Apesar disso, o lugar do ciclista é no leito viário. O atleta, que está treinando, precisa de velocidade. Ele tem o direito de utilizar a via e, muitas vezes, é tão rápido quanto os carros. É importante ressaltar que, pela lei, a bicicleta é um veículo como qualquer outro, e, por isso, também tem de obedecer à sinalização e às regras.

Paulo César Marques,especialista em trânsito e professor de engenharia do tráfego da Universidade de Brasília (UnB)

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Trânsito Escola:

O Brasil está atrasado em muitos aspectos quanto à mobilidade urbana. Cada vez mais se tem ciclistas nas ruas seja por necessidade ou por consciência ecológica.

As prefeituras locais não podem mais negligenciar este meio de deslocamento sobre duas rodas. Ciclistas morrem quase todos os dias, e ainda continuarão, se nada for resolvido quando à segurança dos ciclistas nas vias abertas à circulação.

Claro que educar e reprimir ciclistas que também desrespeitam o CTB é forma de diminuir os acidentes de trânsito.

 

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