Quando ficou desempregada no início do ano, Caroline (nome fictício), de 30 anos, aproveitou a rescisão e o seguro desemprego para realizar o sonho de tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Ela se inscreveu em uma autoescola, pagou as taxas, fez a prova teórica e as aulas de condução, mas quando foi fazer o teste prático acabou vencida pelo nervosismo e falhou, sendo reprovada.
A frustração foi logo superada pela indignação. Ao sair do carro, recebeu uma estranha oferta. “A dona da autoescola chegou e me disse que se eu arrumasse R$ 1.000 seria aprovada. Eu disse que não tinha o dinheiro e que não pagaria por isso”, afirmou a dona de casa, que estava matriculada em uma autoescola na zona sul de São José.
Segundo alunos e ex-alunos ouvidos por O VALE, a possibilidade de pagar para garantir a aprovação no teste prático de direção para obter o documento seria uma vantagem oferecida por várias autoescolas da cidade.
“Fiz aulas com dois instrutores e os dois disseram que se eu pagasse iria garantir a aprovação. Na primeira disseram que era R$1.500, depois baixaram para R$1.300 e ainda ofereceram para parcelar em cinco vezes”, disse uma servidora pública matriculada em uma empresa do centro.
“No dia da prova rola muita pressão e muita gente acaba reprovando. A impressão que dá e que eles querem forçar você a pagar por fora.”
Provas/ As provas práticas em São José acontecem todas as terças-feiras para carros (categoria B) e nas quartas para motos (categoria A). De acordo com o Detran (Departamento Estadual de Trânsito), mais de 600 candidatos participam dos testes semanalmente.
Além da aprovação garantida, outra fraude oferecida pelas auto escolas seria a possibilidade de registrar a presença automática nas aulas. Uma das regras para a retirada da CNH é a realização de no mínimo 20 aulas práticas no veículo de cada categoria.
A presença é registrada com a leitura da impressão digital do aluno. Mas segundo as denúncias, as empresas teriam criado meios de burlar o sistema e possibilitar que a pessoa não cumpra a meta de aulas.
“Eles fazem um molde da impressão digital e aí registram a presença sem você precisar comparecer”, disse um aluno de uma autoescola na zona leste.
O VALE entrou em contato com a Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito) de São José, mas ninguém quis comentar o assunto. O Detran, órgão estadual responsável pela emissão do documento, informou que desde a reestruturação iniciada em 2011 vem adotando medidas para combater as fraudes.
Donos negam fraude e Detran emite alerta
Proprietários das autoescolas de São José denunciadas pelos alunos foram procurados por O VALE e negaram as acusações.
O Detran (Departamento Estadual de Transito) de São Paulo informou que desde a migração do órgão em março de 2011 da Secretaria de Segurança para a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional, foram criadas medidas para combater as fraudes no processo de emissão de documentos. Entre elas, a Corregedoria Setorial no Detran, ligada diretamente à Corregedoria Geral da Administração Pública, da Casa Civil do Governo do Estado. As denúncias podem ser anônimas e devem ser feitas no site do próprio Detran, no link ouvidoria.
De acordo com Daniel Annenberg, coordenador do Detran, o trabalho depende da colaboração da sociedade.
"É extremamente importante que o cidadão denuncie todo e qualquer procedimento irregular por parte de parceiros, como médicos, psicólogos, autoescolas, ou mesmo de funcionários do próprio, para que as medidas punitivas sejam adotadas” afirmou.
Annenberg lembra ainda que o cidadão que for flagrado aceitando qualquer tipo de vantagem, também pode ser indiciado por corrupção.
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