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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Mortes no trânsito. Uma realidade cruel.

A violência no trânsito transformou as estradas e vias urbanas em um verdadeiro front de guerra, com consequências drásticas. A estimativa é de que no ano passado os acidentes de trânsito mataram mais de 40 mil pessoas e deixaram outras 120 mil lesionadas em todo o Brasil.

Nas estradas federais do Rio Grande do Sul, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF/RS), até o mês de setembro deste ano já foram registrados 9.954 acidentes de trânsito, que resultaram em 349 mortes e 4.912 feridos.  Nas rodovias estaduais, conforme levantamento da Brigada Militar, até junho, ocorreram 5.790 acidentes, que causaram 296 mortes e deixaram outras 4.084 pessoas lesionadas. Na Capital gaúcha, segundo a Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC), nos primeiros oito meses deste ano, aconteceram 16.874 acidentes de trânsito e 4.656 vítimas, sendo que 94 fatais. 

Os tipos de ocorrências predominantes são abalroamento, colisões e choques envolvendo automóveis, caminhões e motos. Nas vias municipais de Porto Alegre há também um nível elevado de situações envolvendo táxis e ônibus. Em todos os casos, a ampla maioria dos condutores envolvidos é do sexo masculino.

Segundo os especialistas, a principal causa dos acidentes é a imprudência dos motoristas, seguida pelo excesso de velocidade, consumo de álcool e drogas, falta de atenção e cansaço. O assessor de comunicação social do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), Felix Grivot Neto, destaca que as falhas mecânicas, a engenharia viária e os fatores climáticos, como chuva e cerração, também contribuem para a ocorrência de incidentes no trânsito. Mas o comportamento do condutor que faz ultrapassagens proibidas ou perigosas, desrespeita a sinalização e excede os limites de velocidade é o maior responsável pela violência.

Nas estradas federais gaúchas, as BRs, de acordo com o chefe do Núcleo de Registros de Acidentes e Medicina Rodoviária da PRF, Celso Morais, entre os acidentes, as colisões frontais e os atropelamentos são os que proporcionalmente causam mais vítimas fatais. "Muitos acontecem em função de ultrapassagens em que o motorista se coloca em situação de risco. No caso dos atropelamentos, a maioria ocorre à noite, momento em que é preciso mais cuidado", afirma Morais. Atender o celular, fumar ao volante, mudar a estação do rádio e a até olhar a paisagem distraem o condutor e também acabam contribuindo para os acidentes de trânsito. "O veículo é um facilitador da vida moderna. Mas não deve ser usado de forma insegura, pois pode fugir ao controle", sentencia Morais.

Os condutores também devem observar que as vias, dependendo de onde estão inseridas, possuem peculiaridades que exigem cuidados e habilidades diferentes. Dirigir em estradas localizadas fora de centros urbanos, livres de tantos cruzamentos e semáforos, requer um tipo de habilidade dos motoristas, pois as velocidades permitidas normalmente são maiores. "Mas os condutores precisam ter a consciência da importância do respeito aos limites de velocidade indicados nas placas de sinalização. Mesmo que tenha a sensação de que possa empreender velocidades maiores. Pois os limites são estabelecidos pela engenharia de tráfego com base em estudos de segurança", destaca Grivot Neto.

Já nas cidades, que se caracterizam pelo intenso número de veículos e pessoas, o trânsito exige mais atenção à sinalização e aos pedestres e ciclistas. Segundo o gerente de fiscalização de trânsito da EPTC, Carlos Pires, a maioria dos acidentes nas cidades causa poucos danos e é provocada geralmente por falta de atenção, desrespeito à sinalização e imperícia. Os casos vão desde não parar quando há placas indicando "pare" ou no sinal vermelho, como dar uma ré sem olhar para trás.

Pires destaca que os acidentes envolvendo motociclistas e pedestres também têm aumentado em função das ultrapassagens de motociclistas. "O pedestre vê os veículos parados na rua e atravessa sem enxergar o motoqueiro que vem costurando entre os carros", exemplifica Pires. Os acidentes de grande monta, em centros urbanos, geralmente estão relacionados à imprudência e alta velocidade.

Causas combinam aspectos culturais e comportamentais dos condutores

Mas por que o trânsito mata tanto? As causas combinam aspectos culturais e comportamentais dos condutores. Segundo o médico Milton Chagas, presidente da Associação Paulista de Medicina do Tráfego (APMT), o trânsito é uma guerra em que cada guerreiro representa o seu país, o seu universo. E, no momento em que o indivíduo está dentro do carro, representando o seu país, é forte, audaz. Quando está fora, na condição de pedestre, tem medo, é dócil e quer ser respeitado.

O embate, segundo Chagas, se dá quando, por conta da audácia que sente quando está dirigindo, o condutor se torna mal-educado, impede ultrapassagens e desrespeita os outros motoristas. Essa situação leva a discussões, agressões físicas e, em casos mais extremos, a brigas armadas. “O resultado deste comportamento custou aos cofres públicos, no ano passado, cerca de R$ 23 bilhões gastos com atendimento a vítimas de acidentes. “E o pior é que os leitos hospitalares que poderiam estar sendo usados para atender doentes são utilizados para dar assistência a muitos casos gerados por pura irresponsabilidade”, afirma Chagas.

Uma das medidas importantes que, na opinião do médico especialista em medicina do tráfego, deveria ser mantida é o combate à ingestão de bebidas alcoólicas pelos motoristas. “No aniversário de um mês de implantação da Lei Seca, a economia com acidentes de trânsito em São Paulo foi de R$ 4 milhões. Com este montante seria possível construir um hospital de médio porte”, destaca.  O consumo de bebidas alcoólicas ao dirigir é um problema no mundo todo. Ele explica que o álcool causa a perda dos reflexos do condutor. E o que é pior, na euforia ele perde a autocensura, fica corajoso, agressivo, perde a noção da realidade, o que pode ser muito perigoso.

Milhares de condutores passam ao longo do ano pelos bancos escolares das unidades do Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest/Senat) espalhadas pelo Brasil. Além dos cursos opcionais voltados para a segurança no trânsito, a instituição oferece mais de 200 cursos obrigatórios, como a formação de condutores de transporte de produtos perigosos, de veículos de passageiros e de emergência. Desde a semana passada a entidade também passou a disponibilizar o Curso de Preparação de Instrutor para mototaxista e motofrentista. A coordenadora de desenvolvimento profissional do Sest/Senat, Karina Salomoni, afirma que o discurso dos motoristas, em caso de acidentes, é sempre o mesmo: a culpa é do outro. Ou por falha mecânica do caminhão ou da empresa que não disponibilizou as condições adequadas. “Por isso, focamos nosso trabalho no resgate da responsabilidade de cada um. Queremos que o condutor faça uma tomada de consciência”, afirma Karina Salomoni.

Homens lideram os levantamentos estatísticos sobre desrespeitos às leis

As estatísticas mostram que na ampla maioria dos acidentes de trânsito os condutores são do sexo masculino. Isso se explica, segundo a psicóloga Aurinez Rospide Schmitz, diretora do Ande Bem - Instituto de Psicologia do Trânsito, pelo fato de que para muitos homens o carro, a velocidade e a potência do veículo remetem à sua masculinidade, à sua capacidade. Ou seja, há uma leitura subjetiva de que quanto melhor e mais potente o automóvel, mais bem-sucedido e forte é o seu dono.

Há também casos em que o condutor ao entrar no carro se torna agressivo para compensar seu sentimento de impotência perante situações vivenciadas na vida profissional e até em seu lar.

O anonimato também contribui para que as pessoas extravasem a raiva quando estão dentro de um carro. “O trânsito compõe uma trama diária que nunca será igual no dia seguinte. Os personagens não se conhecem, o que facilita as explosões de temperamento, pois o condutor não sabe com quem está lidando”, afirma Aurinez.

Além disso, como a lentidão e complexidade do trânsito com seu longos engarrafamentos andam na contramão da velocidade em que os negócios se dão, há uma luta contra o tempo que causa inconformidades. “É no trânsito que o homem acaba expondo seu medo de perder espaços. Ele transforma aquele momento em uma luta e, se ceder, ele se sente perdendo coisas. Esse comportamento mostra o quanto estamos no mundo do ganha- ganha”, afirma Aurinez.
O comportamento no trânsito também reflete o momento cada vez mais narcisista em que a sociedade moderna vive. “É o momento do eu tenho que estar em primeiro lugar, eu sou o bom, eu sou o melhor... Todos abram espaço para eu passar”, revela Aurinez. Mas a atitude do condutor também varia conforme as condições emocionais no momento. “Se a pessoa está bem, a cedência não é tão problemática. No entanto,  no outro extremo, se está mal, transforma a estrada num campo de batalha e mostra toda a sua intolerância”, afirma a psicóloga Aurinez.
Detran desenvolve trabalho para mudança de comportamento

Mas há como reverter este quadro de batalha no trânsito. Segundo a chefe da divisão de educação para o trânsito do Detran-RS, Laís Silveira, o que precisa é uma mudança na cultura da violência para a paz no trânsito. Isso se conquista com investimento no conhecimento, na informação e no resgate dos valores sociais. Neste sentido, explica Laís, o Detran desenvolve um trabalho focado na sensibilização das pessoas para a mudança de comportamento. O primeiro valor que deve ser resgatado é o da vida, mostrando a responsabilidade que cada um tem, através dos seus atos, para sua preservação. Outro valor importante, segundo Laís, é do pensamento voltado para o coletivo. “É fundamental que a pessoa deixe de pensar só em si, mas sim no todo. O conhecimento sobre o porquê da existência de cada lei também contribui para a educação nas estradas. “Pois muita gente respeita as leis apenas para não ser punido. Mas, o ideal é que ele saiba que a lei tem uma razão. Foi criada por especialistas com base em fundamentos para protegê-lo”, afirma Laís.

Com os olhos voltados para a educação, tanto o Detran quanto o Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) investem na formação de multiplicadores para repassar informações sobre atitudes de educação no trânsito. Além disso, são promovidas palestras e oficinas. Além do Programa de Educação no Trânsito (Proet) lançado em junho, e que vai capacitar inicialmente 30 professores para ministrar aulas sobre trânsito, o CRBM também mantém duas escolinhas de trânsito itinerantes para crianças até 8 anos, uma em Passo Fundo e outra em Cachoeira do Sul. O assessor de comunicação do CRBM, Felix Grivot Neto, defende a formação de condutores conscientes desde as séries iniciais. “Seria importante que a segurança no trânsito fosse matéria disciplinar”, afirma Grivot Neto.

Para a psicóloga especialista em trânsito, Aurinez Rospide Schmitz, a solução para a problemática do trânsito é todos pensarem em cumprir seu papel. Os governantes têm de planejar melhor a estrutura e sua concretização, pensando no trânsito como um facilitador do deslocamento de todos. “Algumas obras que interferem na circulação dos veículos poderiam ser feitas à noite, ou em finais de semana. Também deveria haver mais cuidado para que os prazos para conclusão de obras sejam cumpridos”, destaca Aurinez.

A impunidade também favorece os delitos. As fiscalizações e autuações devem se somar à educação para o trânsito, que sozinha não funciona. A prova disso, segundo Aurinez, foi a redução drástica dos acidentes de trânsito nos primeiros meses de vigor da Lei Seca em que as blitze eram mais constantes.

Condutas corretas para motoristas e pedestres

Motorista

- Se beber não dirija 
- Se for sair e beber programe uma carona solidária ou outra forma de locomoção
- Não use o celular ao dirigir
- Não fume ao dirigir
- Conheça o seu veículo, potência, funcionamento dos freios
- Faça a avaliação e manutenção periódica dos pneus, motor e freios
- Use o cinto de segurança
- Exija que os caronas do banco traseiro utilizem cinto de segurança
- Respeite os limites de velocidade
- Não faça ultrapassagem em situações de possíveis riscos
- Use a cadeirinha, ou conforme a idade, assento de elevação com cinto de segurança para o transporte de crianças
- Tenha prudência ao dirigir
- Mantenha distância dos outros
- Motociclistas devem evitar ficar costurando

Pedestre

- Use a faixa de segurança para atravessar a rua
- Só atravesse a rua quando tiver certeza de que haverá tempo ou que realmente a situação é segura
- Ao estender a mão para atravessar na faixa de segurança se certificar que o carro terá tempo de parar
- Cuidar com os motoqueiros que cruzam entre os veículos
- Ao descer do ônibus ou lotação, não atravesse a rua pela frente do veículo

Fonte: Jornal do Comércio

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