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terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A prostituição na 'família de deus' e na 'família do capeta'

Desde que os direitos humanos passaram a ter força e aplicabilidade no ordenamento jurídico brasileiro, no pós-militarismo [1964 a 1985], houve uma enxurrada de defesas aos ‘bons costumes’ sociais no Brasil.

A família — lê-se 'capitalista' — sempre se afirmou como a mais tolerável, virtuosa e contemplativa, em relação a família profana — lê-se 'comunista'. São as guerras ideológicas da Guerra Fria às quais ainda vigoram no inconsciente coletivo brasileiro.

Primeiramente, os direitos humanos não defendem, e muito menos, incentivam a prostituição. Os direitos humanos defendem sim, uma política de governo capaz de gerar empregos para todos os cidadãos, indiferentemente de sexualidade, etnia, crença, classe social. Com uma economia forte, as pessoas escolherão ser profissionais do sexo por livre escolha. O legado da prostituição é a falta de oportunidade de trabalho, ou que dê condições, reais, de vida digna [art. 7º, IV, da CF/88]. É fácil para as pessoas que tiveram toda, ou parcial, condição socioeconômica de ascender [mobilidade] quando tiveram ajuda dos pais — falo antes das ações afirmativas.

As notícias de jones conseguindo sucessos financeiros se deve a atualidade de oportunidades, principalmente trazidas pelas tecnologias. Mesmo assim, exige-se um mínimo de conhecimento para usá-la. Nada se faz sozinho: alimentos, residências etc. É narcisismo dizer que "Eu consegui tudo sozinho!", pois o alimento não cai do céu.

Se na Antiguidade a prostituição [feminina] era considerada sagrada, com o passar dos séculos, a mulher passou a ser lixo do lixo. O machismo, desde a Grécia Antiga, trouxe inúmeras formas de castrações, limites intelectuais às mulheres. O ser 'supremo' [homem] detinha o poder sobre a vida da mulher. Se antes dessa conduta desumana a mulher detinha poder doméstico e até político, o homem usurpou este poder em proveito, perverso, próprio.

A sexualidade da mulher passou a ser reprimida, ao homem todo o poder sobre a sexualidade feminina. O estupro era permitido, já que o homem era o 'senhor' do mundo. A liberdade de expressão e de pensamento da mulher fora silenciada pela conduta autoritária do homem. Até a forma de se vestir, de gesticular, de sentar e de falar foram consubstanciadas numa ‘cartilha’ comportamental. A mulher que desobedecesse a essa cartilha era considerada um pouco de tudo, menos virtuosa.

Formaram-se dois tipos [padrões] de mulher: uma não poderia demonstrar toda a sua sexualidade na cama, porque poderia ser considerada ‘mulher da vida’; já a outra deveria mostrar-se como uma — desculpe o termo — ‘cadela no cio’, por ser uma ‘real’ prostituta. A mulher de ‘família’ deveria agir o mais simples possível na cama — abrir as pernas somente; os desejos e vontades da mulher de ‘família’ deveriam ser represados no mais profundo âmago da mulher. A mulher de ‘família’ era mãe e esposa, e deveria ser tratada como uma [quase] Virgem Maria.

Conquanto a mulher da vida, ou mulher que não é de ‘família’, era uma Maria Madalena. Pecadora desvairada, a ‘Maria Madalena’ não teria nenhum direito perante a sociedade ‘humanitária’, seguidora de Deus — sabe lá qual seja. A mesma sociedade ‘Família de Deus’ consentiam aos maridos algumas ‘traquinagens’ nos bordéis, afinal, o homem tinha que expurgar sua força genésica. E no final, o marido sempre retornava para a mulher de sua vida, a mulher socialmente correta — aos olhos da sociedade e de Deus. Amém!

Quero deixar claro, se assim pensarem alguns leitores, que não sou ateu e muito menos um perseguidor das religiões. Sou humanista universalista. E pela liberdade de expressão e de pensamento exponho o que muitos já sabem, entretanto, num país Medieval, ainda justifica sua barbárie secular.

Pois bem, prostituição. Saindo da hipnótica doutrinação secular, farei considerações. O que é prostituição? Se pensarmos no modelo estereotipado, a prostituição é a conduta de uma pessoa em saciar a libido alheia por alguma recompensa material. Ora, o ‘dote’ cobrado pelos pais é uma prostituição oficializada, sacramentada e ‘justa’. A filha não quer casar com o pretendente — rico ou influente politicamente —, mas ele é um ‘bom partido’. Dado o corpo da filha ao ‘bom partido’, ela teria que se ‘acostumar’ ao marido, contudo seguindo a cartilha de comportamento social: fazer sexo mesmo contra a própria vontade; não responder ao marido; não dar opinião quando não permitido pelo marido etc.

O dote não é mais aplicado na sociedade brasileira, em algumas regiões do Brasil. Porém, outa forma de prostituição foi convencionada. A escolha, por parte da filha, do ‘bom partido’. Ela fora ensinada pelos pais — entra várias justificativas ‘filosóficas’ — que o ‘bom partido’ deve ser corajoso, másculo, ter profissão que dê sustento familiar, ou profissão que seja reconhecidamente positiva [status] na sociedade.

Ora, no século XXI, principalmente com o neoliberalismo [Estado mínimo], as mudanças econômicas ocorrem rapidamente. Tanto o homem quanto à mulher podem perder seus empregos, ou somente um deles. Logo, o ‘bom partido’ deve demonstrar credenciais — quem sabe registrado em cartório — de que jamais ficará na berlinda. Querendo, ou não, a prostituição social permitida — busca do ‘bom partido’ não é muito diferente da prostituição não oficializada — ‘mulher da vida’. Ambas as mulheres apenas negociam suas entranhas em troca de alguma recompensa patrimonial ou financeira.

Explanei sobre a mulher, mas existe a prostituição masculina. Não falo do homem que fica nas esquinas esperando cliente. Falo do homem que se aproveita da ingenuidade da mulher, da dependência psicologia dela. Há homens conhecedores da psicologia feminina, e os noticiários demonstram que não são poucos estelionatários, os quais dão ‘amor’ em troca de vantagens patrimoniais etc. Da mesma forma, existem mulheres usando de suas posições socioeconômicas para controlar os homens, ou até mesmo para conseguir um pretendente. Numa relação promíscua, ambos se relacionam por interesses degradantes, desumanos. Muitos desses relacionamentos acontecem sem que cada qual diga realmente as próprias intenções. As mentiras surgem com naturalidade, como água que brota da fonte límpida.

Concluo este artigo, que não se esgota em si, que não cabe mais catalogar pessoas em ‘boas’ ou ‘más’ pelos moldes retrógados. Acusações genéricas são imperdoáveis numa democracia. Os direitos humanos, como eu disse alhures, não incentiva a prostituição, seja ela disfarça na ‘família de deus’, ou cometida nas esquinas, porém incentiva o convívio pacífico entre as pessoas, não importando as escolhas pessoais, desde que não causem danos — como uma nigeriana que sabia ‘positiva’ [AIDS], por revolta, transava sem avisar aos parceiros. A relação entre os seres humanos deve ser o mais transparente possível, eis o fundamento da liberdade de expressão e de pensamento. Cada qual deve dizer o que quer numa relação. Ainda há o machismo que condena a mulher, mesmo sendo de ‘família de Deus’, que fale abertamente que só quer uma noite, e nada mais.

O chocante disso, é que os machos alfas podem falar mal das mulheres. Se a mulher é ‘boa de cama’, logo é taxada de ‘prostituta’. Qualquer pessoa que faça justiça pelas próprias mãos [exercício arbitrário das próprias rações], com alegações de defender os ‘bons costumes’, comete crime. Qualquer homem que denigre a imagem da mulher, mesmo ela sendo realmente profissional do sexo [prostituta], ele comete danos morais [injúria, difamação ou calúnia]. O mesmo vale para a mulher que, na tentativa de se vingar contra o marido infiel, lança na internet que ele toma Viagra. Tanto a imagem quanto a honra são protegidos pela Carta Cidadão de 1988.

Não é mais possível neste século, no Brasil, a não ser que a pessoa saia do Brasil, concepções teóricas de ‘sangue azul’, de darwinismo social e de eugenia. O narcisismo é péssimo ao desenvolvimento do Brasil [art. 3º, da CF/88]. A dignidade da pessoa humana [arts. 1º, III, 5º, § 1º, da CF/88] é o principio basilar do Estado Democrático de Direito. Ou seja, civilidade.

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