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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Todos o documentos em um

Abra sua carteira. O que tem aí? Dinheiro – tomara – e mais talão de cheques, identidade, habilitação de motorista e um monte de cartões: de crédito, do banco, do plano de saúde, da locadora de vídeos, do telefone público. Que tal trocar tudo por um cartãozinho apenas, um só? Não falta muito para isso acontecer.

A tecnologia já existe, chama-se smart card (cartão inteligente, que vem com um chip capaz de processar dados), e sua eficiência está sendo testada em vários cantos do mundo, inclusive no Brasil.

Em Campinas, a 100 quilômetros de São Paulo, já circulam quase 40 000 cartões que substituem o dinheiro em 800 lojas, restaurantes e outras casas comerciais. O projeto é da Visa, mas há outros. Em Itu, também interior de São Paulo, 450 comerciantes aceitam 13 000 cartões distribuídos pelo Bradesco. No mundo todo, são quase 1 bilhão de smart cards. E um deles deverá estar no seu bolso. “Os mercados que mais esquentam são Coréia do Sul, Estados Unidos e Brasil”, avalia Alyxia Do, analista da empresa de consultoria americana Frost & Sulivan, de olho no novo mercado.

Sob o risco da gatunagem eletrônica

A maioria dos smart cards que circulam por aí tem chips capazes de guardar 8 quilobytes de dados, algo como o texto desta reportagem. Parece pouco, mas já é sessenta vezes mais do que cabe num cartão magnético. E logo logo virão modelos 200 vezes melhores, com espaço de sobra para embutir todos os documentos de um cidadão.

Em Cingapura, já dá para pagar contas e usar telefone público com o mesmo plástico. Na Tailândia, pedágios aceitam a nova moeda. Há ainda cartões para o sistema de TV pay per view, para guardar dados de saúde e até aqueles que servem como documentos. “Logo, em vez de colocarmos o cartão na carteira, ela é que vai ser colocada no cartão”, disse à SUPER o americano Edmund P. Jensen, presidente da Visa.

Isso só não aconteceu até hoje porque havia o medo de falcatruas. O que está destravando a porteira é a evolução da capacidade do chip de processar criptografia, a transformação de mensagens em códigos incompreensíveis para quem não está autorizado a lê-las. No estágio atual, não dá para dizer que o smart card é 100% seguro, mas é bem difícil que ele venha se prestar à gatunagem eletrônica. Uma das garantias é que ele produz uma assinatura única para cada transação, que só pode ser lida por quem tem o decodificador adequado. Isso diminui o risco – que apavora governos e bancos – de que alguém descubra o segredo para carregar o chip com mais e mais crédito, transformando seu próprio cartão numa microfábrica de caraminguás. “A segurança é uma batalha constante”, disse à SUPER Bill Barr, presidente do Fórum do Smart Card, entidade internacional que reúne 300 empresas ligadas ao setor. “Precisamos estar sempre identificando os desafios para preparar defesas contra eles”, revela Barr. Os hackers não dão mesmo sossego.

Praticidade versus privacidade

A praticidade oferecida pelo smart card é tentadora, mas ele pode roubar um bem precioso do cidadão: a privacidade. Muitos dos cartões que estão sendo testados hoje nascem totalmente anônimos. O de Campinas é um. Ele não traz senha, nome, número de conta, nada. Durante o uso, porém, o anonimato deixa de ser assim tão anônimo. Para começar, as últimas dez transações ficam gravadas. Se alguém roubar o seu cartão, saberá que tipo de estabelecimento você anda freqüentando. E quanto mais aplicações forem embutidas, mais indiscreto o chip será. Terá a identificação do dono, talvez um histórico de saúde, até que um dia tudo estará ali, dentro do chip, desde o passaporte até a carteira profissional. Sua vida será um verdadeiro cartão aberto.

E como garantir que um larápio não se passe por você? Na hora de fazer um pagamento, ele terá de provar que é você, o que será impossível. O chip conterá dados biométricos para ser comparados com os do portador, por meio de um mecanismo parecido com o usado nas Olímpiadas de Atlanta, em 1996. Ali, os 40 000 donos de crachás eletrônicos eram identificados pela geografia da mão.

A tecnologia básica para que o chip substitua a carteira já está pronta. É boa e está cada vez mais segura. A França, onde o smart card nasceu e é adotado pelos bancos desde 1993, já enfrentou uma série de fraudes, mas hoje elas foram reduzidas a preticamente zero. De acordo com a companhia telefônica francesa, além de todas as vantagens, o smart card ainda falha sete vezes menos que os magnéticos comuns. O que falta é ver como vão se casar todos os interesses e necessidades dos consumidores, dos governos, dos comerciantes e dos bancos. Aí, sim, vão surgir produtos realmente interessantes. Sem fantasmas como o do Grande Irmão – a entidade fictícia que mantinha controle absoluto da vida de todos no livro 1984, de George Orwell –, ou da falsificação ou lavagem de dinheiro. Antes de ir para o lixo, portanto, é bem provável que a sua carteira surrada ainda sirva para carregar vários smart cards, cada um com sua função. E isso já será ótimo. Por mais que pareça estranho, você pode estar certo de que, desta vez, vai agradecer por ter o bolso aliviado.

Fonte: Superinteressante

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