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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Cada morte custa R$ 182 mil

Menos óbitos em acidentes de trânsito trarão economia aos cofres públicos

Além de tirar a vida de milhares de pessoas, todos os anos, os acidentes de trânsito custam caro aos cofres públicos. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que cada morte no trânsito custe R$ 182 mil ao governo.
Conforme as estatísticas do Departamento de Trânsito (Detran) do DF, este ano, até o início de julho, 226 pessoas morreram vítimas de acidentes nas vias brasilienses. Utilizando como base a avaliação do Ipea, estima-se que o prejuízo do governo, apenas em 2008, no DF, já passaria dos R$ 41 milhões. Esse dinheiro deixa de ser aplicado em setores que necessitam de investimentos como a saúde, por exemplo.

Em 2004, o Ipea já havia divulgado um estudo sobre os impactos sociais e econômicos dos acidentes de trânsito no País. "No ano de avaliação, 2003, cada morte custou aos cofres públicos um total de R$ 144 mil", informou Marcelo Piancastelli, diretor de Estudos Regionais e Urbanos do Ipea. Para o DF, que fechou 2003 com 470 mortos, o prejuízo foi de R$ 67 milhões.

Os componentes usados para chegar à essa conclusão, segundo o Ipea, estão associados a todo o aparato estatal que é necessário mobilizar em torno de uma vítima de trânsito, como gastos com ambulâncias, bombeiros e médicos. Na área hospitalar estaria a soma dos custos de remédios e internação, por exemplo. Associado a isso também estaria a perda de produção da vítima, ou seja, o que ela deixaria de contribuir ao sistema econômico do País com a interrupção de suas atividades produtivas. O governo ainda acrescenta, em sua avaliação, custos associados ao veículo envolvido, processos judiciais, atendimento policial, danos à propriedade pública e privada, entre outros indicadores. Até a necessidade de aposentadoria por invalidez é incluída nos cálculos.

Economia

Com a Lei 11.705/08, que proíbe o motorista de ingerir qualquer quantidade de álcool antes de pegar o volante, o governo quer reduzir os acidentes e o número de mortes no trânsito. Um estudo da Associação Brasileira de Medicina para o Trânsito (Abramet) mostra que o intuito da lei faz sentido. Isso porque uma pesquisa da entidade mostrou que de 50% a 60% dos acidente com vítimas estavam relacionados ao consumo de bebida alcoólica.

Até agora, a realidade segue o que diz essa estatítica. Aqui no Distrito Federal, segundo o Detran, o número de mortes em acidentes de trânsito diminuiu 50% depois da Lei Seca – o que indicaria que foram praticamente zerados os acidentes com motoristas bêbados, restando apenas os que não são conectados ao uso de álcool, assim como previu a Abramet.

Dez dias antes de a Lei 11.705 entrar em vigor, o Detran registrou 12 mortes em acidentes no DF. Dez dias depois da implementação da nova legislação, este número caiu para seis óbitos. Se essa tendência se confirmar, o DF poderá trazer uma economia de aproximadamente R$ 43 milhões por ano – o que daria para construir 1.228 casas populares de R$ 35 mil, segundo custos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Rigorosidade

Ontem, a Lei Seca completou 20 dias de vigência. Quem for pêgo dirigindo alcoolizado pode ser punido com suspensão da carteira de habilitação por um ano, além de multa de R$ 957 e retenção do veículo. A suspensão por um ano do direito de dirigir é feita a partir de 0,1 mg de álcool por litro de ar expelido no exame do bafômetro – que é a tolerância dada atualmente, devido à diferença de medição entre os aparelhos. Acima de 0,3 mg de álcool por litro de ar expelido, a punição é também a detenção do motorista (de seis meses a três anos).


Entrega de bêbados cria empregos

Enquanto diversos setores da sociedade estão otimistas quanto aos resultados da Lei Seca – diminuição de mortos e feridos, economia para os cofres públicos etc – donos de bares e restaurantes reclamam da queda do faturamento. O Sindicato de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de Brasília (Sindhobar) diz que, em alguns estabelecimentos, houve a redução de 65% nas vendas de bebidas alcoólicas e no movimento em geral.

Em contrapartida, empresários de outros ramos, como o de transportes, aproveitam a nova fase para faturar. É o caso de Luciano Santos Oliveira, 25 anos, proprietário da Kadoshi transportes. Há pouco mais de uma semana ele criou um serviço chamado "Escolta Amiga". O objetivo da empresa, localizada na Asa Norte, é levar para casa aquele que gosta de tomar uma cervejinha em um bar e, por isso, não pode pegar no volante.

O empresário disponibiliza dez motocicletas apenas para o serviço, que atende todo o Plano Piloto, Lagos Sul e Norte, Sudoeste e as cidades satélites. O preço varia de R$ 10 a R$ 30, dependendo da distância. E solicitar o serviço é simples, basta que a pessoa ligue para o Escolta Amiga, indicando o endereço onde está. "Mando uma moto com duas pessoas. Um dos funcionários dirige o carro do cliente até a residência dele. A moto os acompanha. O motoqueiro traz o outro funcionário de volta", explicou Luciano.

Serviço procurado

A Escolta Amiga está disponível nos mesmos horários de funcionamento dos bares de Brasília – das 20h às 3h. Apesar do pouco tempo de funcionamento, o proprietário já registra uma média de cem ligações por dia – isso porque está apenas na primeira semana de funcionamento. A expectativa é que, no fim de semana, quando há maior movimento nos estabelecimentos comerciais, a procura aumente. "A Lei Seca beneficiou bastante a minha empresa. Além disso reduziu o número de acidentes, salvou mais vidas", defendeu, feliz, o empresário.

Agora, Luciano comemora uma parceria fechada com seis bares do DF. Nos panfletos distribuídos por toda a cidade, o comerciante vende a idéia de que a pessoa pode beber sem se preocupar com a blitz do Detran ou abordagens da Polícia Militar. "É só nos ligar ou pedir que o garçom faça isso", completou o dono do Escolta Amiga.

E se quem bebeu não apelar para serviços como esse, ou taxis e caronas, é bem capaz que seja parado pela fiscalização. A Operação Bafômetro está atuando em todo o DF e, além do Detran, têm sido executada pelas Polícias Militar e Rodoviária. Nem mesmo a "Corrente do Goró" – sistema de mensagens de texto via celular que informam sobre os locais das blitze – reduziram os flagrantes de motoristas bêbados.

Depois dessa tentativa de burlar a lei, os agentes decidiram passar a realizar batidas-surpresa, em qualquer dia ou hora da semana. Viaturas disfarçadas também serão usadas para flagrar motoristas infratores e os locais das fiscalizações podem mudar a qualquer instante.


Acidentes caem pela metade

A eficiência da Lei Seca, segundo especialistas, está na fiscalização rigorosa. Mesmo que ela não esteja em todos os pontos da cidade, os motoristas estão com medo de serem pêgos pelo teste do bafômetro. A conscientização das pessoas também é importante para o processo. Para o diretor-científico da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), José Montal, é possível se falar numa redução de 50% no número de mortes em todo o País, a curto e médio prazo.

Segundo ele, somente no Estado de São Paulo, por exemplo, já é possível detectar bons resultados depois da vigência da Lei Seca. O médico informou que houve uma diminuição de 10% nos atendimentos a traumas. "A Secretaria de Saúde do Estado também apresentou uma redução de 50% no número de atendimento geral a acidentados no município. A lei está funcionando bem", afirmou.

Apesar disso, o professor da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em tráfego, Joaquim Aragão, prefere ser mais cauteloso com relação ao Distrito Federal. Ele disse que apesar dos bons resultados, ainda não é possível fazer uma análise estatística segura. "A repressão está mudando o comportamento das pessoas. A questão cultural ainda é muito forte, mas a mudança está acontecendo", destacou.

O mês de julho, por ser de férias, dificulta uma interpretação mais profunda com relação aos números de mortes e acidentes depois da Lei Seca. Essa é a opinião do especialista em tráfego Paulo César Marques, que também é professor da UnB. "Houve redução do limite permitido e a fiscalização aumentou. Espero que ela se aprimore e evite tentativas como a "Corrente do Goró", por exemplo", enfatizou.

O importante de tudo isso, segundo Paulo César, é que o indivíduo entenda que álcool e direção não combinam de jeito nenhum. "A conscientização é o mais importante de tudo, independentemente se a lei é rigorosa ou não", afirmou, lembrando o caso da faixa de pedestres no DF. "Hoje o brasiliense tem orgulho da faixa, de ver que aqui ela é respeitada. Isso aconteceu depois de muita campanha", completou o especialista.

Fonte: Jornal Brasília
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